5x favela – agora por nós mesmos pode soar ao espectador brasileiro como “mais um filme de favela” ou qualquer obra de ode à pobreza que tanto frequentou a história do Cinema Brasileiro da última década. A evidência recorrente das péssimas condições daqueles que moram nessas comunidades urbanas criou um estigma na cinematografia brasileira e no público. A favela é vista quase como algo fetichista dos “ricões que querem falar de pobre”. Mas 5x favela honra seu subtítulo. Agora, é a favela que conta a favela.
O que enriquece os roteiros dos curtas que compõem 5x favela é o diálogo constante do morro com o asfalto. Não há um isolamento; a favela faz parte da cidade e estamos todos “juntos e misturados”. Há muita sinceridade no filme; o trabalho em equipe transparece. Talvez por isso exista uma pluralidade no filme que pode dar um tom desigual. Há grandes acertos em muitos momentos, como na atuação, na fotografia, na montagem e na trilha sonora. No entanto, também há coisas que poderiam ser melhoradas nesses mesmos aspectos. 5x favela também não consegue ser uma obra única pelos vários tônus dramáticos dos cinco filmes. Cada história tem particularidades muito distintas e é difícil ver o filme como uma obra única; o filme será desigual para quase todo mundo.
Feijão com arroz, de Rodrigo Felha e Cacau Amaral
A tônica do humor perpassa três dos cinco curtas; a questão do tráfico também está em três, sendo que em um, Concerto para violino, há violência explícita. Feijão com arroz e Acende a luz são, de longe, os mais lúdicos, quase como fábulas. Eles ganham no quesito atuação e divertimento. Acende a luz tem uma fotografia muito criativa e aconchegante, com cores um tanto novelescas, o que enriquece a história leve e engraçada. Deixa voar também conta com uma bela fotografia, mas aqui evidenciando o céu e os rostos dos adolescentes.
Deixa voar, de Cadu Barcellos
A criatividade narrativa ou a cinematográfica não são muito trabalhados (exceto talvez pelo paralelismo narrativo de Concerto para violino), mas a riqueza de detalhes, da arte à atuação, do roteiro ao som, mostra o quão bem trabalhado e articulado foi esse longo e trabalhoso processo. O ineditismo do projeto reside no projeto em si, concepção que pode criar um novo ramo na indústria cinematográfica: o de cinema de mutirão.
Acende a luz, de Luciana Bezerra
Cada um encontrará sua relação com a favela dentro desses cinco curtas. Cada um aprenderá alguma coisa nova sobre a vida em comunidade. Cada um se surpreenderá com algum aspecto muito semelhante ao seu próprio cotidiano. E é essa pluralidade e polifonia que levará 5x favela e o Cinema Brasileiro para viajar bem longe.
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