domingo, 28 de fevereiro de 2010

Das Weisse Band (A Fita Branca)

Por Rafael Mathias



Das Weisse Band ganhou a Palma de Ouro, por melhor filme estrangeiro foi indicado ao Oscar e levou o Globo, também de Ouro. Conclusão: não tem como deixar de ver esse filme.

Agora vamos aos méritos. A temática do filme é ousada, bota em questão a inocência e a pureza das crianças, e é disso que se trata a fita branca. A estrutura narrativa é linear, porém, vários personagens moradores do vilarejo têm suas histórias relatadas de forma intercalada, o que dá ao longa um ritmo agradável. Para acompanhar, um voice-over do “Professor da Escola” em alguns momentos, embalando o suspense sutil, que contribui para uma estética noir. Complementando essa estética, a belíssima e tocante fotografia de alto contraste, que também foi indicada ao Oscar. Além disso, o ótimo elenco é formado, em sua maioria, por atores juvenis principiantes (assim como em Cidade de Deus).

Uma curiosidade sobre o filme, é que os personagens adultos não são atrubuídos de nomes próprios, e são chamados por suas profissões/funções no vilarejo, diferentemente das crianças que são personificadas. Vale observar também, que o filme se passa na Alemanha logo antes da Primeira Guerra Mundial, tratando da geração de crianças que encarou nos 30 anos posteriores, uma era de caos da sociedade alemã. Portanto, vejam e tirem suas conclusões.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Os incomodados que se mudem...

Por Gabriel Giraud


Sérgio Bianchi é um diretor que eu aprecio muito. Ele trata do social brasileiro sem aquela estética favelesca-sertanejesca estigmatizada no Cinema verde-louro. Ele fala de questões nas quais todos nós nos encerramos: preconceito racial, diferença entre classes, consumismo, caridade, valores pessoais de dinheiro e família. Seus filmes, apesar de não fazer muito sucesso nas bilheterias, se mantêm como importantes documentos ficcionais da nossa sociedade.

Os inquilinos é mais uma ambientação densa e claustrofóbica da realidade de uma família que, apesar de todas as dificuldades, tenta levar a vida honestamente. Ao contrário de Quanto vale ou é por quilo? e Cronicamente inviável, a trama do novo filme de Bianchi se fecha num nível mais específico. Já sua fotografia se atém num nível de documentário, mas há momentos misteriosos no uso da câmera de Bianchi, principalmente nos ápices emocionais do protagonista, com fusões e ricos em simbolismo. Os interlúdios com a aula de literatura formar uma trilha interessante e original à história, norteada pela ótima leitura de Cássia Kiss.

A atuação é muito boa, principalmente as dos atores que vivem os protagonistas (Marat Descartes e Ana Carbatti). Caio Blat é exceção. Os olhares e o suspense crescem a cada cena. O medo da morte e da invasão do invólucro da família angustia o espectador. A crescente tensão numa situação aparentemente sem saída nos leva a uma conclusão machadiana fatalista de aceitar a natureza humana. A estética simples, estranhamente, parece destoar da história, mas, no fim, vemos, de algum modo, como o banal e o extremo são amigos íntimos e vivem pacatamente ao lado da nossa casa. Vale a pena lutar por valores e direitos? Afinal, o tempo resolve tanta coisa mesmo... cada um é quem sabe de si. E, disso, Bianchi testa os nossos valores.

Recomendo filmes de Sérgio Bianchi para aulas e debates de Sociologia.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Idas e Vindas do Amor

Por Gabriel Giraud



Nos manuais de sociabilidade, há sempre dicas de como conquistar pessoas e dar uma ótima impressão. Uma delas é a de que, uma vez que você faz alguém rir, a conquista é praticamente certa. Um velho conhecido, então, sabera fazer isso direitinho. Ainda mais um velho conhecido que mexeu com os coraçõezinhos de varias gerações nos anos noventa, com uma história de uma garota de programa que encontra seu grande amor. Pois bem, ele é nada mais, nada menos do que o diretor de “Uma linda mulher”, Garry Marshall.

Tá certo que já faz algum tempo que não anda fazendo nada de tão impressionante quanto “Uma linda mulher”, mas quando se junta meia Hollywood num mesmo filme, é difícil não se sentir minimamente atraído. E, é claro, muitos talentos conhecidos do público fazem mais uma vez seu papel. Todos saem satisfeitos.

“Idas e vindas do amor” é montado sobre várias histórias de diversas pessoas que se entrelaçam no dia dos namorados gringo, o dia de São Valentim. A partir da primeira piada, o filme vai conquistando mais e mais o coraçãozinho do carente espectador. O timing de piadas é bom, e isso reflete o profissionalismo com a qual a produção do filme foi feita. O elenco é um show à parte, com destaque não-surpresa para Julia Roberts, Queen Latifah e, surpresa!, Jessica Biel. Já no time dos meio sem sal ficam Ashton Kutcher, com a cara de bobão de sempre, e a Taylor Swift, que parece nem ter o esforço de atuar (a Taylor fêmea, aquela loirinha que pega o Taylor macho, o lobisomem do Crepúsculo/Lua nova/sei lá, que, aliás também está no filme.. Tá bom, enfim, ela é chata e tem cara de burra.)

O filme parece ser mais um desses historinhas água com açúcar engraçadinhos americanos. E é. Mas é muito bem feito. Os eventos fazem rir, chorar, a gente se identifica com uns ou outros personagens, como se eles fossem autômatos dos nossos sentimentos num plano virtual. Chorei, ri, achei fofo. No fim, é isso o que a gente busca mesmo (a não ser que você seja um nerd querendo ver um David Lynch da vida).

Ah, e aos fãs de “Uma linda mulher”: fiquem até a última cena depois do fim do filme.


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Nine

Por Gabriel Giraud



Definitivamente é um filme que só de saber que vai estrear já dá um frisson, um tesãozinho de “ai, caralho, um musical da Broadway baseado em Fellini cheio de atrizes fodonas!” Pois bem, o ruim de criar uma expectativa muito grande é que a gente pode quebrar a cara. Nine tem um pouco disso, mas também tem surpresas agradabilíssimas: uma estética impagável, com alternância entre o colorido e um preto e branco bem granulado, típico dos filmes italianos dos anos 50; iluminação consistente; um grand finale de tirar o fôlego; e uma moça. Só uma vale o filme inteiro. Mas, como eu gosto de fazer suspensezinho, vamos continuar a desenrolar o carretel.

Pesquisei muito sobre gente que viu a versão da Broadway, gente que amou o filme e outros que odiaram e saíram antes do fim... Mas, depois que eu vi a primeira foto da Penélope Cruz, pensei “cara, deve ser lindo isso” e fiquei superempolgado até ver como o Guido Contini é chato. O cara fica cheio de crise, fumando que nem uma chaminé, só quer saber de fuder e nada de trabalhar... parece um playboyzinho, só quer fama, sair bem na fita, dirigir seu carrão e, como ele mesmo diz, sua idade mental beira os dez anos. Um herói que muita gente vai se identificar. Só faltava ir pra baile funk.

Então aparece a Penélope, a amante, com um número bem legal, plasticamente perfeito, musicalmente OK. E então vem Judi Dench, a amiga, com seu sotaque francês contradito pelos seus ditongos ingleses – e ela não canta, ela declama os versos da música; Fergie, a prostituta da infância, com aquele vozeirão americanamente exagerado, mais próximo do American Idol do que de um musical; Marion Cotillard, a esposa, com seu primeiro solo – música insuportável; Kate Hudson, a jornalista periguete, pagando de putinha quase carioca zona sul com uma música não exatamente boa, mas catchy – num trabalho de câmera de videoclipe de mau-gosto, convenhamos; Sophia Loren, la mamma, a única coisa realmente da Itália com uma aparição tão expressiva quanto Reynaldo Gianechinni em Laços de Família; Nicole Kidman – pausa pro “putaquiupariu, essa mulher implantou 350ml em cada lábio, não é possível” – numa outra música chata, bancando a musa que quer ser vista como ser humano; e, por fim, o segundo solo de Marion, esse sim, do caralho!

A trama de Nine é mínima. Esse resumo da ópera mostra como as personagens são rasas e arquetípicas. O filme se baseia na apresentação das mulheres da vida de Guido e o enlace e desenlace se dão muito próximos, além de ter personagens demais na adaptação – até agora não entendi muito a relevância do papel de Kate Hudson. As estrelas não brilham pelo tempo dividido entre muitas, então elas se ofuscam. Daniel Day-Lewis se sobressai por, sei lá, carisma, pois seu personagem não parece ser tão difícil de ser montado – e seu sotaque italiano, bem, deixemos isso de lado.

Espera um pouco. Se as músicas de um musical já não são assim, uma Brastemp, e o protagonista ganha a cena por ser o Daniel Day-Lewis, por que isso vale duas horas da sua vida? O grande trunfo de Nine é – que ruflem os tambores – Luisa Contini, a personagem de Marion Cotillard. Ela rouba a cena das demais e, principalmente nas cenas de flashback e no seu segundo solo, a respiração do espectador vai ser hipnotizada. Ela traz som e fúria do teatro para a tela grande, seus olhos enchem e inebriam a cena com sua angústia e seu amor, sempre de uma maneira muito sutil (basta comparar com Nicole Kidman).

Vale a pena ser visto: as panorâmicas da Itália são lindas, a abertura de pernas da Penélope é incrível e, no final, a gente vai ficar cantarolando Cinema Italiano, a música que fecha o filme na voz de Kate Hudson. Ah, taí a relevância do papel dela!