terça-feira, 16 de março de 2010

Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos

Por Gabriel Giraud


Um apartamento num prédio antigo. Noite. Uma mulher nua, com uma beleza sutil, leve. Um casal fazendo sexo. No dia seguinte, um boêmio. O homem pós-coito. Um misantropo sufocado por seus pensamentos e por crises inspiracionais e emocionais. Um escritor fracassado. Uma imagem âmbar, um lugar cheirando a mofo, arquitetura antiga, uma textura europeia.

Sentemos e sintamos. Algo nouvelle vague, woodyallenianesco e noir. Cheiro de cultzão. Pois bem, adoro ficar meio puto com o filme e ele diz ‘rá, não me subestime, biatch!’

Oquei, não foi isso tampouco o que aconteceu. Mas é legal pegar essa estética, esse negócio todo e meio que limpar a bunda com isso. Não num sentido pretensioso, mas sim numa tentativa de rir, de voltar a algo que o Cinema Brasileiro vem perdendo: o humor de chanchada. Rir de pau e bunda. Rir de mandar alguém tomar no cu quando esse alguém pede dinheiro emprestado. Se isso é digno ou não, deixemos para a filosofia do humor moral. Mas é interessante termos variedade, ela nos abre olhos a novos caminhos.

O roteiro é surpreendente. Ele é conduzido desigualmente, e vou justificar com um comentário clichê: tem muitas cenas clichês. A festinha com cocainômanos é um elemento que me enche muito a paciência. Mas, sim, há grandes acertos, principalmente no jogo de planos onde Zeca é tentado por Carol. A atuação é justa, Caio Blat e Daniel Dantas cumprem competentemente seus papéis. A argentina Luz Cipriota é realmente gostosa interessante.

Mas a surpresinha do roteiro vale a ida ao cinema. Vale também atentar a questões como: que tipo de filme virá pela frente?; que temáticas serão resgatadas?; quantos outros novos diretores como Paulo Halm (roteirista, dirigiu aqui seu primeiro longa) terão coragem de se libertar para tentar?

E questões de produção (creio que) pela primeira vez aqui, no Cadernos do Cinema: pô, por que escolheram esse título enorme e nada prático? E pior: por que raios o título do filme em inglês é Spleen? Spleen significa “baço” em português e pode significar metaforicamente “revolta”, “raiva”. Será porque tem alguma coisa a ver com a renovação das células de sangue, daí muda aquilo que alimenta o coração e toda essa simbologia do que alimenta o amor? Será que é porque, como vivemos no país do futebol, 90 minutos é um conceito que vende? Ou seria isso por causa da surpresinha?

Ainda acho que o filme devia se chamar 20 motivos (pra se ver uma história de amor). Por quê? Surpresinha...

quarta-feira, 10 de março de 2010

O Pós-festa [Parte 1]

ESPECIAL OSCAR 2010*
Por Matheus Miguens



Ahhh, o Oscar! Evento tão esperado pelo mainstream da sétima arte. [Num vem não, todo mundo gosta do Oscar! Num cabe dar uma de indie cult agora!] E depois de 81 edições de puro tradicionalismo ortodoxo, eles ainda conseguiram reservar algumas surpresinhas para nós! Fiquei surpreso sim, porém satisfeito. Dylan estava certo, os tempos estão mudando. E de alguma forma, as pequenas ‘zebras’ desse ano (sim, eu achei que elas existiram!) não me incomodaram muito, simplesmente porque elas aconteceram! Num é legal?

Começando pelo espetáculo em si, gostei – o do ano passado foi melhor. Grandioso, impecável e sem erros, como sempre. Como apresentadores, achei Steve Martin e Alec Baldwin harmoniosamente se complementaram no palco. Com piadinhas ensaiadas e tiradinhas improvisadas, conseguiram arrancar algumas risadas minhas - Ben Stiller arrancou muitas! Apesar da abertura sem-graçilda - um número musical com Neil Patrick Harris, da série How I Met Your Mother - tiveram algumas homenagens legais, como para os filmes de terror (constantemente esquecidos pela Academia) e para o diretor John Huges, recentemente falecido, que nos deixou alguns presentes cinematográficos, como Curtindo a Vida Adoidado e Clube dos Cinco (uns dos meus filmes prediletos!). Teve um número de dança meio fora de propósito numa homenagem às trilhas sonoras, mas nada que tirasse o brilho da festa.

Quanto às premiações, minhas apostas foram por água abaixo. Não fiquei de todo o triste e já expliquei o porquê, mas depois de uma taxa de 90% de acerto no Oscar do ano passado, os míseros 60% desse ano anularam completamente a minha chance de ganhar um passe livre do Cinemark (merchan pode?) de 1 ano grátis de cinema! Mas tudo bem, Oscar não tem jeito. Para cada categoria, você precisa qualificar os concorrentes em: pra qual você está torcendo, qual seria o mais justo vencer e quem realmente vai levar. É isso, torcida, justiça e predestinação são características independentes na festa dos Academy Awards, mesmo andando juntas em algumas categorias. Como eu não vou falar de todos, para a lista completa de indicados e ganhadores, clique no link.

Começando pela ordem crescente de importância (segundo a Academia), vou logo dizendo que documentário não teve pra ninguém. O surpreendente The Cove era visivelmente favorito. Superior aos demais concorrentes, o filme trata da matança de mais de 20 mil golfinhos por ano em Taiji, no Japão, e as razões disso são assustadoras. Mostra a indiferença das autoridades japonesas quanto ao fato e de que forma eles acabam ganhando com isso. Vale a pena ver, muito interessante. Talvez quem tivesse também um pouco de chance ao prêmio fosse o Food, Inc., que trata dos bastidores da indústria alimentícia americana. Apesar de eu não aguentar mais documentários sobre comida que não mostram muita coisa de novo e acabam em lugares comuns, esse é interessante e de alguma forma também assustador. Aí vai a dica: Veja Food Inc. e logo depois O Desinformante (2009), o recente filme de Soderbergh com Matt Damon. Verás e entenderás.



Filme estrangeiro. De longe, a maior zebra da noite! A Fita Branca [crítica A Fita Branca] (vencedor de 15 prêmios, incluindo Cannes, BAFTA e Globo de Ouro) não levou! Foi uma surpresa, já que o filme alemão concorreu também à fotografia com os gigantes americanos. E quem ganhou? Talvez seu canditado direto, O drama francês O Profeta? Não. Não?! A Teta Assustada, pode ser? O filme peruano que surpreendeu a todos, muito bom. Também não. O fato é que os filmes da categoria esse ano são fenomenais, mas quem desbancou todos foi aquele modesto filme argentino chamado O Segredo dos Seus Olhos, de Juan José Campanella. Aprendemos à lição, vamos todos vê-lo, inclusive eu. Ele acaba de chegar aos cinemas aqui. O filme conta a história de um aposentado oficial de justiça que resolve escrever um romance sobre um caso de assassinato que presenciou no passado. Tem que valer a pena.

Animação não teve graça. É a minha categoria preferida, mas a Pixar tem o talento de transformá-la em covardia, quando está presente dentre os concorrentes. Como era de se esperar, o estúdio da Disney levou o prêmio mais uma vez com seu último longa Up![crítica Up!]. Com exceção do Tá Chovendo Hamburger, que num vale nem o itálico do nome, os outros concorrentes eram (na verdade, são) excelentes como filmes, mas não como concorrentes. Coraline foi o que mais me encantou. Dirigido por Henry Selick (O Estranho Mundo de Jack), o filme é baseado no romance homônimo de Neil Gaiman sobre uma menina que descobre um mundo idealizado por suas frustrações. Quer outra razão para vê-lo? Sua animação é toda realizada em stop-motion! É o caso também de outro concorrente, Fantastic Mr. Fox, do excêntrico talentoso Wes Anderson (The Royal Tenembaums). Apesar de tudo, confesso que Up é superior a todos. Tão superior, que concorreu também às categorias Filme, Roteiro Original e Trilha Sonora (que acabou levando, graças ao excelente trabalho de Michael Giacchino). Com esses dois, a Pixar soma agora 9 Academy Awards em 10 filmes já feitos! É pra quem pode.



Efeitos Visuais. Favoritismo estipulado, favoritismo obedecido. Como também em direção de arte. Com mérito, Avatar levou os dois. Porém a festa do super-star-system de Cameron parava por ali, só dando tempo para mais um Oscar, o de fotografia, que não havia um favorito. Apesar de ter acertado, cogitei a possibilidade dos excelentes trabalhos fotográficos deGuerra ao Terror e A Fita Brancaganharem. A proposta de cor e luz nos três são bem diferentes e qualquer um que vencesse, eu acharia justo. Mas em Avatar, a fotografia além de fundamental, é tecnicamente perfeita em sua proposta.

Figurino eu acertei! Apesar dos grandes concorrentes, The Young Victoria já tinha ganhado o prêmio do Sindicato dos Figurinistas e de alguma forma era favorito. Com excelentes trabalhos de figurino e direção de arte, o filme se passa no século dezenove e conta os turbulentos primeiros anos da Rainha Victoria do Reino Unido. No páreo, estavam o burlescoNine[crítica Nine] e Coco Antes de Chanel [crítica Coco Avant Chanel], filme que a indumentária é temática central.

Montagem não foi zebra, mas foi injusto. Relembrando a regra que disse no início, quais são as três divisões a serem feitas dentre os indicados? A torcida, a justiça e o favoritismo (pré-destino). Veja bem, o justo e o favorito costumam andar juntos na maioria das vezes, mas nem sempre! Por exemplo, montagem (lê-se edição). Torcida (minha): Bastardos; Justo:Distrito 9 (além de genial, a mais trabalhosa de todos os indicados); Favorito: Avatar (Porque é Avatar). Vencedor: Guerra Ao Terror. (??) Tudo bem que a edição do filme é boa e foi fundamental para complementar o belo trabalho de direção de Kathryn Bigelow, mas eu realmente considerei melhores. Fazer o que...

[continua...]

sábado, 6 de março de 2010

Somos Jesuses

*ESPECIAL OSCAR 2010*
por Gabriel Giraud



Na noite do Oscar desse ano, haverá muitas apostas sobre dois filmes: Avatar e Guerra ao terror. Tudo e mais um pouco já foi dito sobre Avatar. Cora Rónai disse que é um “ótimo filme ruim”. Sim, a história é a mesma das invasões imperialistas. No entanto, no mundo dos roteiros, há cerca de doze estruturas nas quais todos os filmes se encaixam. E, sendo assim, o que conta é a maneira com que se conta essa história. O fazer se sobrepõe ao roteiro.

É claro que um filme cuja tecnologia levou 15 anos para ser aprimorada tem um mérito e impõe uma admiração considerável. É mais do que um filme maneiro. É uma experiência revolucionária. Essa experiência, de acordo com muitos periódicos, compara-se a de se ver um filme com som ou a cores pela primeira vez. Será que o 3D se imporá como regra assim como a cor se impôs? Bem, na História do Cinema, se o fazer cinematográfico se sobrepõe ao roteiro, a experiência se sobrepõe ao fazer.

Ainda assim, quando comparamos as bilheterias dos filmes que fizeram história (corrigindo a inflação), Avatar fica em 15º lugar (apenas cinco filmes dos anos 2000 estão entre as 50 primeiras posições). Parece que o cinema morreu. Uma tecnologia nova hoje não é capaz de seduzir o espectador como a tecnologia das cores o fez quando E o vento levou... estava em cartaz.

Entretanto, ainda vale perguntar: que elementos o 3D pode trazer à linguagem cinematográfica? Afinal, nos filmes 2D o diretor escolhe pelo espectador pra onde ele olha, pois determinamos um objeto ou um rosto para estar em foco. Já no 3D, somos livres pra lha o que quisermos, seja em primeiro, segundo ou terceiro plano. Será que, se conseguirmos dar um sentido mais específico a essa nova ferramenta, ressuscitaremos o Cinema? Ou cabe aos cineastas aceitarem a morimbundeza cinematográfica?

Os dois grandes indicados pela Academia esse ano são filmes que buscam inserir o espectador na realidade de suas cosmogonias: o salvador Avatar e o low-budget Guerra ao terror. Seus “realismos” são distintos no que concerne a linguagem usada. Um é a riqueza quantitativa de elementos, superexposição de itens por quadro, detalhismo de um mundo imaginário. O outro busca a crueza do nosso mundo-real-que-não-vemos, com closes e recortes específicos dos detalhes que devem ser mostrados. O Oscar dirá linguagem sairá vencedora nessa batalha. Mas cabe ao público decidir se essas linguagens salvarão o Cinema de seu destino fadado a se encarcerar e morrer em terras acadêmicas.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Oscar Animado

*ESPECIAL OSCAR 2010*
por Gabriel Giraud


Sim, todos queremos saber quem vai sair na melhor na premiação do Oscar, nesse domingo 7. No entanto, se você quer realmente falar com propriedade com o seu amiguinho e amiguinha sobre os filmes que não alçaram os mesmos voos de "Avatar" ou "Up", o Cadernos te dá uma mãozinha para conhecer os indicados ao Oscar de melhor curta de animação do ano. Um melhor do que o outro, é difícil escolher um favorito. Divirta-se!

FRENCH ROAST (Fabrice O. Joubert)

GRANNY O'GRIMM'S SLEEPING BEAUTY (Nicky Phelan and Darragh O'Connell) - em inglês

THE LADY AND THE REAPER (LA DAMA Y LA MUERTE) (Javier Recio Gracia)