Por Gabriel Giraud
Filmes da Disney sempre foram clássicos da minha geração. Eu, manteiga derretida que sou, sempre procurava evitar esses filmes para não sair chorando na frente de todo mundo. A gente cresce e vai sentindo uma atraçãozinha maior pelos filmes da DreamWorks, tipo o Shrek, que tem aquelas palhaçadas levemente ácidas e deliciosas que só gente grande entende. No entanto, depois de muito tempo, chega Wall-E, da Pixar, e toca nossos coraçõezinhos. Todos disseram que se tratava da melhor animação já feita. Até Up.
O novo filhinho da Disney/Pixar arrancou suspiros de vários blogueiros e críticos de cinema. Dentre eles, eu mesmo. Chorei. Chorei muito, nossa, de a voz tremer ao sair da sessão. O filme é lindo, a história é uma lição de vida com personagens carismáticos (o velhinho, o escoteirozinho gordo, o bichinho que deve ser protegido e o cachorro babão). Daí você espera um pouco o efeito do filme passar e vê: era um filme da Disney. D-I-S-N-E-Y! Três horas mais tarde, eu tinha lembrado de tudo o que eu detestava chez Disney: tradicionalismo de valores (casamento/casinha/pureza), emoção fofinha, desumanização dos personagens ligados à modernidade (executivos são todos maus e frios), maniqueísmo, relacionamento entre personagens super estranhos entre si (A Bela e a Fera e Cia.) causando aquele sentimento de amizade pura e incondicional, dando a famosa lição de moral de que devemos ser pessoas íntegras e humanas – tudo isso com a estética hipnotizante já conhecida. Fórmula conhecidíssima. E a gente sempre cai nela. Sempre achei isso tudo muito hipócrita, a Disney é uma indústria que faz praticamente lavagem cerebral nas criancinhas pra elas comprarem os filmes, games e bichinhos de pelúcia.
Ok, essa digressão foi para aguçar um pouco nosso senso crítico em relação à indústria cinematográfica. Entretanto, o filme tem pontos essenciais. Um: o protagonista é um velhinho. Dois: sua vida passa e ele nunca realiza sua grande aventura. Três: quando ele fica velho e está prestes a aceitar a chegada do fim da sua vida, ele assume uma atitude de retorno da infância. Isso torna-se uma mensagem nietzschiana da metamorfose humana traduzida para o espectador. O homem como camelo, que carrega sua corcova sem reclamar; como leão, que quebra com sua vida de camelo e vira fera; e, por fim, como criança, que assume uma nova infância, o começo de uma nova vida. E eu realmente acho esse percurso essencial em cada decisão de nossas vidas.
Vi isso duas poltronas da minha no cinema. Uma senhora com dificuldade para andar, sendo ajudada por uma outra mulher, esta de meia-idade, vendo o filme. Curioso, olhava para ela quando eu já tinha enxugado minhas lágrimas. Seu semblante era grave, como se refletisse sobre algo muito sério. Bem, talvez ela não estivesse entendendo tudo, já que sua acompanhante sussurrava-lhe coisas no ouvido volta e meia. Mas achei interessante esse efeito.
Mais do que o exemplo de relação entre idosos e crianças (louvável) e a busca da realização de sonhos, o filme trata de aceitar viver. Aceitar começar mesmo quando parecer não haver expectativas. Todos os gestos, todas as pequenas ações podem ser recicladas para outras finalidades. Uma reflexão humana, complementando o outro viés de humanização de Wall-E.
8 comentários:
Acho que acima de ser um filme da Disney, Up é um filme da Pixar, e isso sim é o que conta. Além disso, achei meio pesada demais a crítica à Disney. Ok que eles são provavelmente a maior indústria (não só cinematográfica) do mundo, mas há sim pontos positivos em seus filmes (pelo menos os desenhos clássicos). Histórias que falam de medo, da relação familiar não perfeita, do diferente, da busca pelo sonhos, entre outras, talvez não encontrassem em outros formatos (fora do estilo Disney) tanta facilidade de penetrar no subconsciente das criancinhas. Não estou defendendo a Disney. Na verdade, eu não suporto o modo OVER de fazer todas coisas que eles têm, mas enfim.
Falando de Up, só agora - lendo essa crítica - que eu me dei conta de seu valor. Eu assisti o filme na versão 3D, e consegui me surpreender mais uma vez com a qualidade técnica inigualável da Pixar. E além disso, vi o estúdio reafirmar seu caráter, sem deixar a Disney interferir na estética e/ou história do filme. Apesar disso, eu criei um certo bloqueio ao filme uma semana antes de assisti-lo, quando fiquei sabendo que Chico Anysio era quem dublava o senhor Carl. Quando assisti o filme, cada vez que ouvia o personagem (falando qualquer coisa) eu via, ali na telona, um dos zilhões de personagens que o ator já interpretou. Pai de santo, professor de escolinha, repórter, indiano velho chato, etc, etc, etc e etc, todos hiper caricatos. Preciso, definitivamente, assistir o filme com o áudio original pra poder ver todas suas qualidades.
Acho que a Pixar foi o que melhor aconteceu em termos de animação no cinema.
já eu acho que foi south park. XD
sério, acho muito legal a estética de colagens e recortes em animação. esses desenhinhos novos são meio asseptizados, sei lá. questão de gosto mesmo.
copiou da Maluh.
não copiei, aprendi. vc tb, Renato haha
isso é referência, não é copia. dai, pra discutir o conceito de copia, a gte vai ter q entrar numa questão de mimesis e quando tu começar a discutir isso comigo, tu vai querer voltar pra tua casa chorando, rapah. XD
Gostei bastante. Só podia ter procurado se empolgar menos. hehehe
dica: não escreva a crítica de um filme logo depois de vê-lo. esfrie a cabeça meu filho, senão você vai fazer as pessoas chorarem tb! hehe
haha o problema é que eu esqueço! XDXD
gostei muito de UP e ainda mais da sua critica, vc tem muito estilo!
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