segunda-feira, 21 de junho de 2010

His name is Bass... Saul Bass.

Por Alice Fonseca



Foi em 1955, quando os rolos do filme de Otto Preminger, O Homem do Braço de Ouro, chegaram aos Estados Unidos, e na lata que continha a película se lia “projetistas: puxem as cortinas antes dos títulos”. Que muita gente não gosta de ver os créditos e se levanta assim que o filme acaba, não é nenhuma surpresa, e, naquela época, não era muito diferente... Preminger sabia disso. Até aquele momento era dado como maçante ver os títulos pelo longa-metragem, mas o diretor queria que seu público visse os créditos como parte integrante do filme.

O tema era a luta de seu protagonista - um músico de jazz representado por Frank Sinatra - para superar seu vício em heroína. E ao contrário dos outros filmes que Sinatra contracenava, os créditos desse não levavam seu rosto , mas o desenho de um braço de viciado em heroína. Sim, a imagem é forte, ainda mais para aquela época e foi justamente por saber que era um conceito forte de dependência que o designer a escolheu. Seu nome era Bass, Saul Bass.

Aparentemente ilimitado na criatividade, Bass não foi apenas um dos grandes designers gráficos do século XX, com seus pôsteres, mas foi o cara que encontrou expressão nas aberturas dos filmes, usando todo o potencial criativo que eles tinham. Pioneiro na utilização de técnicas de animação que traziam com elas efeitos emocionais e psicológicos, Bass foi reconhecido em seu trabalho após trabalhar com Alfred Hitchcock, Otto Preminger e Matin Scorsese.

Suas colaborações mais reconhecidas são com Hitchcock, em Vertigo (1958) e Psicose (1960). O designer fez da abertura inicial de Vertigo sua obra prima, com o drama, o suspense e com referências à vertigem que seu personagem principal sofre.


O que muita gente não sabe é que em Psicose a participação de Bass foi muito além da cena dos créditos. O designer arquitetou o modo como a cena clássica do assassinato do chuveiro foi filmada, desenhando-a inteira em storyboard antes as filmagens. Dizem até que Bass saiu divulgando por aí que foi o diretor da cena, mas isso é assunto pra outra hora.



Enquanto o seu grau de participação em Psicose permanece difícil de identificar, Bass deixou sua inconfundível marca habitual no título de seqüências do filme e esta foi a terceira e última colaboração entre o designer e o diretor inglês. Sim, terceira, eles antes trabalharam juntos em Vertigo e Noth by Northwest (1959), mesmo que nesses Bass tenha se limitado a seqüências de título.

Saul Bass foi um gênio com estilo, começou trabalhando como uma espécie de “freelancer designer gráfico” e morreu como uma lenda do cinema em 1996. Scorcese descreveu uma vez sua abordagem como a criação de uma “imagem emblemática, imediatamente reconhecível e imediatamente ligada ao filme". Sei bem o que ele quer dizer, não há como discordar, Bass é o cara.

sábado, 19 de junho de 2010

Sem poder, não vem responsabilidade alguma

Por Rafael Mathias

Ser um geek não é fácil. Você acha o que, que o sonho de todo o geek é ter uma loja de gibis? Ser o primeiro no rank mundial do Xbox? Isso é a realidade, mas o sonho mesmo é fazer tudo que todos acham ser impossível para um magricela de óculos: chutar uns traseiros e pegar a mais gata do colégio. Traduzindo, se tornar um super-herói.

Pra isso existe o cinema, pra isso existe
Kick-ass! A vida de Dave Lizewski é comum, ao estilo adolescente sofredor de bullying, que perde o dinheiro do lanche, aspirante a futuro integrante de The Big Bang Theory. Eis que um dia percebe: “Oh Deus! Alguém precisa fazer algo a respeito dessa injustiça!”. E quem melhor que os outros do que si próprio, ou algo parecido. Surge então Kick-ass, o super-herói mais bundão do planeta.

Ambientado em Nova Iorque, a base é similar à de Homem-Aranha, mas como dito no filme “sem a aranha radioativa”. É aí que está a magia, nada é mágico A vida de Dave é totalmente ordinária, com um belo toque de azar. Porque é engraçado ver o protagonista se ferrar de vez em quando. Isso se traduz em uma busca pela realidade que se torna caricata.

O que despertou a minha curiosidade foi que, ao mesmo tempo que o filme tenta não cair no
cliché do herói intocável, acaba entrando num banho de sangue no melhor estilo Kill Bill. Esta aí um ponto chave: até que ponto as ações beiram o real (ou tal situação é crível). O longa-metragem de Matthew Vaughn acerta em cheio, com um bom-humor surreal.

Muitos filmes de super-herói usaram e abusaram de técnicas para aproximar-se da estética dos quadrinhos. Kick-Ass se excede em matéria de edição se comparado à Hulk (de Ang Lee), e se compara à Watchmen no que diz respeito à imagem – os planos são muito interessantes e variados, e as cores nos faz mergulhar naquele universo. Pra quem gosta, é um prato cheio.

sábado, 12 de junho de 2010

Bernal já não é mais o tal

Por Gabriel Giraud
Um lugar exótico. Carrões desfilando sobre estradas de terra. Uma loiraça e Gael García Bernal. Uma trama envolvendo americanos, ingleses, italianos. Tá bom, parei, isso não é um filme de ação ou de espionagem, só é um filminho romântico.

O “where is the love?” americano é o cerne do roteiro de Cartas Para Julieta (Letters to Juliet). A nova queridinha da América, Amanda Seyfried (que todo mundo lembra como a loira-burra das Meninas Malvadas), é Sophie, uma averiguadora de informações, detetive-jornalista ou qualquer coisa parecida com aspirações a escritora. Ela vai em pré-lua-de-mel a Verona com um insuportável, hiperativo, raso e nada sensual Gael García Bernal, encarnando Victor, seu marido e recém chef. Uma aspirante a escritora e um chef de cozinha na Itália... já pelos aperitivos, dá para ver que Sophie não será capaz de provocar apetite em seu noivo.

A história começa mesmo quando ela encontra uma carta não-respondida há vários anos na Casa de Julieta, um ponto turístico em Verona onde as mulheres escrevem suas desventuras amorosas e os homens e crianças tiram fotos com as estátuas nuas (mas só tinha mulher gata chorando no muro das lamentações da Julieta!) Sophie responde e escreve toda prosa à remetente da velha carta. E a mulher, já uma senhora, inglesa, volta à Itália para reencontrar seu grande amor. E ela não é nada menos que Vanessa Redgrave, no papel da doce vovó Claire.

E eu disse que ela vem acompanhada do seu neto bonitão? E que o neto bonitão e Sophie têm um atrito inicial? Mas que Claire quer que a detetive Sophie vá junto com ela na empreitada em busca de seu grande amor? E que essa empreitada é a grande oportunidade para que Sophie comece a escrever? E que o noivo de Sophie vive em leilões de vinhos e viaja em plena pré-lua-de-mel? E que o neto bonitão é solteiro e rico e tem um carrão? Pois bem.

E, nesse roteiro que você saca o filme todo em cinco minutos, a gente saca também que ele acaba assim que a vovó Claire acha o seu Lorenzo Bertolini dentre os quinhentos Lorenzos Bertolinis da região. Sacamos errado. O filme ainda dá uma volta imensa pós-fim. E desnecessariamente. A sensação é de sobra e obviedade, e isso resulta em impaciência. É uma pena, pois a personagem de Vanessa Redgrave protagoniza cenas lindíssimas, como a cena em que ela escova os cabelos de Sophie na penteadeira e a da descoberta de Lorenzo – e que serviria de um lindo grand finale a um filme esteticamente bem-feito. Infelizmente, é o completo oposto que acontece.

Agora, para sobremesa, informação útil do filme: sim, é fofo; sim, é ótimo para o Dia dos Namorados; sim, dá pra entender tudo fazendo outra coisa no cinema. Mas pare um pouquinho de vez em quando, o filme vale algumas lindas cenas. E as lições de que Gael García Bernal pode sim ser o marido traído; de que a Itália deixa todos os branquelos bem vermelhos; e de que Shakespeare era um apaixonado italiano!

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Sexo (gay), mentiras e Jim Carrey

Por Matheus Miguens


Obs.: Não tem jeito, Jim Carrey nasceu pra isso. Eu sei, eu sei... filmes maravilhosos como Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças e O Show de Truman não devem perder valor na carreira do ator, mas é na comédia que Carrey mostra seu talento e dá o verdadeiro significado aos seus personagens.

Baseado em fatos reais, I Love You Phillip Morris é homônimo ao livro de memórias de Steve McVicker, que ganha o nome de Steven Russel para o personagem principal. O longa ganhou seu primeiro nome em português em novembro do ano passado, quando passou por aqui pelo evento Vale Open Air. Traduzido ao pé da letra por Eu Te Amo Phillip Morris, até que me agradou. Não imaginaria um nome melhor. Agora, O Golpista do Ano?? Faz o filme descer muitos níveis, integrar o grupo dos ‘da pesada’ ou ‘do barulho’ e assim, receber um estereótipo caricato de Sessão da Tarde! Patético. Enfim, assuntos mercadológicos.

Numa mistura de O Segredo de Brokeback Mountain com Prenda-me Se For Capaz, O Golpista do Ano conta a história real de Steven Russel (Jim Carrey), um policial bem casado que após um acidente resolve assumir sua homossexualidade. Para viver no mundo gay, Russell vira um picareta, capaz de qualquer ato ilegal para conseguir dinheiro fácil. Em uma das prisões de Russell, ele conhece o Phillip Morris do título, brilhantemente interpretado por Ewan McGregor. Sempre que aparece, o ator rouba a cena e, graças a ele, o filme ganha novos ares e se torna muito mais agradável. Russell e Morris se apaixonam e essa relação vira uma história de amor e falcatruas com situações dramáticas, mas também divertidas.

Para além do argumento e das interpretações, poucos aspectos me parecem dignos de nota. Mas a verdade é que o filme cumpre os seus objetivos, conta uma historia bem contada e deixa-nos a pensar sobre ela. E esse talvez seja o seu maior trunfo, a narrativa. É uma obra polêmica, que banaliza a homossexualidade e usa o humor como fio condutor para narrar uma história profundamente trágica. Sem qualquer pudor em caricaturar o lado mais estranho da homossexualidade aos olhos dos heterossexuais, esta é no fundo uma história de amor de um homem que se recusa a aceitar as limitações que a vida lhe impõe, e usa de todos os meios para subvertê-las.

Sem falar nele, Jim Carrey. Sua versatilidade assusta ao interpretar convincentemente todas as metamorfoses de um personagem tão singular, desde o seu tempo de polícia casado e pai, até ao sofisticado diretor financeiro, ou doente aidético terminal. Tem gente por aí o acusando de caricato demais. E é! Para seus fãs, o papel é um prato cheio. No melhor estilo O Mentiroso de ser. E Rodrigo Santoro? Está lá, em quatro cenas e aparece como terceiro nome no crédito aqui no Brasil. Seu personagem acaba perdido no meio do filme, ressurgindo já no final meio sem propósito só para sabermos que fim ele levou. Bem medíocre. Mas é só um detalhe. Até por ele o filme vale.


segunda-feira, 7 de junho de 2010

Aptidão para imersão

Por Rafael Mathias


Acrobacias, perseguições, lutas, viagem no tempo e uma femme fatale. Vá ao cinema, se identifique e realize suas maiores fantasias. Já temos todos os elementos necessários para um filme de sucesso, só faltam os efeitos especiais e o galã. Não faltam não, pois estamos falando de Príncipe da Persia, e nestes quesitos, a adaptação do clássico game não peca.

Mas podemos falar do que se tem em exagero ou o que falta para ser algo além. O primeiro item seria a falta de profundidade com que o tema central é abordado: a busca desenfraeada pelo poder, desencadeada pela inveja, resultando em traições e rompimentos de laços importantes. Da mesma forma desleixada e superficial que descrevi, o tema é exposto na tela. Outro motivo seriam as atuações sem destaque, ressaltando apenas Alfred Molina.

Pois então, diante dessa falta de profundidade, acaba que cria-se espaço para um sem-número de reviravoltas, que podem ser explicadas da forma que convier pro roteirista. Ironicamente, isso funciona muito bem. Então vamos pro lado legal da coisa.

As situacões novelescas, as cenas de ação com doses de slow motion, e os conflitos enfrentados pelo Príncipe Dastan são extremamantes empolgantes. Você vibra e torce pelo protagonista, fica indignado com o quao feio e bobo foi o traidor, e o ápice do filme é estasiante. (Só a minha bexiga não aguentava mais a duração do filme, mas eu estava imerso na realidade persa).

Imagem do game Prince of Persia: The Sands Of Time  


Agora, o motivo pra eu ter achado esse filme mais que mediano, foi a forma como a superprodução foi feliz em transpassar a atmosfera do game para os cinemas. A iluminação cria um ambiente, basicamente contrastando as temperaturas de cor mais altas com as mais baixas (amarelo alaranjado e azul); um figurino fiel; e alguns planos derivados da linguagem “videogamística”. Ainda tem o le parkour, marca característica do jogo, que praticamente reinventou o gênero dos games de aventura. A história foi um pouco modificada, mas tudo para o bem do filme, que mantém seu vilão principal e os desafiantes hassassins


Então, entre na torcida pelo príncipe em As Areias do Tempo, ele merece voltar.

sábado, 5 de junho de 2010

Nada de novo

Por Matheus Miguens


O cineasta Roman Polanski está preso desde novembro de 2009 na Suíça, acusado de pedofilia em um caso que se envolveu nos anos 70, cuja culpa ele mesmo assumiu na época. É nessa atmosfera que a gente critica seu mais recente thriller, O Escritor Fantasma, que já começa mal pelo título.

A tradução literal do original The Ghost Writer emprega um sentido estranho ao título. O termo, originalmente em inglês, designa uma pessoa que escreve em nome da outra, atividade muito comum na redação de discursos políticos, palestras e “auto”-biografias. Por ser uma expressão idiomática, quando passado pro português ela perde o sentido e o filme se transforma num Terror! Ponto fraco numa obra que é essencialmente comercial. Passado isso, ela até que é interessante.

Ewan McGregor é o personagem título – que curiosamente não recebe um nome –, contratado para continuar escrevendo as memórias de Adam Lang (Pierce Brosnan), um ex primeiro ministro britânico, após a misteriosa morte de seu escritor fantasma anterior. Quando o político é acusado de envolvimento comcrimes de guerra, o trabalho, que já era perigoso, passa a tomar enormes e perigosas proporções, a ponto de colocar a vida de ambos em risco. É aí que o escritor deixa o dever de lado para se aventurar nas investigações das falcatruas do político. O Escritor Fantasma é baseado no livro The Ghost, de Robert Harris, que não faz a menor questão de esconder que é inspirado na vida do primeiro-ministro Britânico Tony Blair.

O fato é que o filme, apesar de suas qualidades – e elas existem –, não convence. Não passa de um thriller-americano-nada-surpreendente que beira o clichê. A história pode ser desvendada facilmente nas primeiras cenas e pelo próprio gênero era meio lógica a conclusão trágica do final. Acrescente a isso o sotaque britânico fake-bizarro de Pierce Brosnan e o péssimo cromaqui, nós temos um filme que não é digno de Roman Polanski.

Exceto a direção, que rendeu a Polanski o Urso de Prata no Festival de Berlim deste ano. O diretor tem uma intimidade com a câmera que o emprega a capacidade de fazer de uma história cheia de clichês um exemplo de direção cativante. As cenas são muito bem conduzidas com enquadramentos e sequências boas. Não só isso, mas a atmosfera do filme também me agrada. É conferida uma aura noir, com imagens cheias de sombras e um ambiente predominantemente acinzentado, sob constante clima nublado, acompanhado de uma trilha sonora de cordas igualmente sinistra. Mas para por aí.

O filme é até legal, ainda que não pessoal e sem qualquer traço autoral. Mas não convence uma pessoa – eu – que sempre reclama dos roteiros que se repetem no cinema.



terça-feira, 1 de junho de 2010

A Seleção que já ganhou


Coco Chanel & Igor Stravinsky

Após uma breve pausa devido a projetos e provas na faculdade, a equipe do Cadernos volta trazendo a dica quente desse começo de mês para o pré-Copa: o Festival Varilux de Cinema Francês. Com uma seleção que é a crème de la crème da produção cinematográfica da França, o Festival Varilux traz nesse ano um porte maior, ocorrendo simultaneamente em várias capitais brasileiras, a partir dessa quinta, 3, até o dia 10 de junho. Aqui no Rio de Janeiro, as sessões ocorrerão no Estação Ipanema e no Unibanco Arteplex, sendo que a abertura será no Odeon Petrobras.

O profeta

Grandes êxitos, como o superpremiado e indicado ao Oscar por melhor filme estrangeiro, O profeta (Un prophète), passa por aqui. Os inéditos Coco Chanel & Igor Stravinsky, O dia da saia (La journée de la jupe) e Oceanos (Océans) são filmes que prometem agradar o grande público e impactar com suas estéticas bem trabalhadas. No Dia Mundial do Meio Ambiente, 5 de junho, o filme Oceanos será exibido gratuitamente num telão no Forte de Copacabana.

Oceanos

Veja no site do festival a programação completa para todas as cidades, bem como trailers e sinopses. Et vive la France! – pelo menos até o Mundial...