sábado, 12 de junho de 2010

Bernal já não é mais o tal

Por Gabriel Giraud
Um lugar exótico. Carrões desfilando sobre estradas de terra. Uma loiraça e Gael García Bernal. Uma trama envolvendo americanos, ingleses, italianos. Tá bom, parei, isso não é um filme de ação ou de espionagem, só é um filminho romântico.

O “where is the love?” americano é o cerne do roteiro de Cartas Para Julieta (Letters to Juliet). A nova queridinha da América, Amanda Seyfried (que todo mundo lembra como a loira-burra das Meninas Malvadas), é Sophie, uma averiguadora de informações, detetive-jornalista ou qualquer coisa parecida com aspirações a escritora. Ela vai em pré-lua-de-mel a Verona com um insuportável, hiperativo, raso e nada sensual Gael García Bernal, encarnando Victor, seu marido e recém chef. Uma aspirante a escritora e um chef de cozinha na Itália... já pelos aperitivos, dá para ver que Sophie não será capaz de provocar apetite em seu noivo.

A história começa mesmo quando ela encontra uma carta não-respondida há vários anos na Casa de Julieta, um ponto turístico em Verona onde as mulheres escrevem suas desventuras amorosas e os homens e crianças tiram fotos com as estátuas nuas (mas só tinha mulher gata chorando no muro das lamentações da Julieta!) Sophie responde e escreve toda prosa à remetente da velha carta. E a mulher, já uma senhora, inglesa, volta à Itália para reencontrar seu grande amor. E ela não é nada menos que Vanessa Redgrave, no papel da doce vovó Claire.

E eu disse que ela vem acompanhada do seu neto bonitão? E que o neto bonitão e Sophie têm um atrito inicial? Mas que Claire quer que a detetive Sophie vá junto com ela na empreitada em busca de seu grande amor? E que essa empreitada é a grande oportunidade para que Sophie comece a escrever? E que o noivo de Sophie vive em leilões de vinhos e viaja em plena pré-lua-de-mel? E que o neto bonitão é solteiro e rico e tem um carrão? Pois bem.

E, nesse roteiro que você saca o filme todo em cinco minutos, a gente saca também que ele acaba assim que a vovó Claire acha o seu Lorenzo Bertolini dentre os quinhentos Lorenzos Bertolinis da região. Sacamos errado. O filme ainda dá uma volta imensa pós-fim. E desnecessariamente. A sensação é de sobra e obviedade, e isso resulta em impaciência. É uma pena, pois a personagem de Vanessa Redgrave protagoniza cenas lindíssimas, como a cena em que ela escova os cabelos de Sophie na penteadeira e a da descoberta de Lorenzo – e que serviria de um lindo grand finale a um filme esteticamente bem-feito. Infelizmente, é o completo oposto que acontece.

Agora, para sobremesa, informação útil do filme: sim, é fofo; sim, é ótimo para o Dia dos Namorados; sim, dá pra entender tudo fazendo outra coisa no cinema. Mas pare um pouquinho de vez em quando, o filme vale algumas lindas cenas. E as lições de que Gael García Bernal pode sim ser o marido traído; de que a Itália deixa todos os branquelos bem vermelhos; e de que Shakespeare era um apaixonado italiano!

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