segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Nine

Por Gabriel Giraud



Definitivamente é um filme que só de saber que vai estrear já dá um frisson, um tesãozinho de “ai, caralho, um musical da Broadway baseado em Fellini cheio de atrizes fodonas!” Pois bem, o ruim de criar uma expectativa muito grande é que a gente pode quebrar a cara. Nine tem um pouco disso, mas também tem surpresas agradabilíssimas: uma estética impagável, com alternância entre o colorido e um preto e branco bem granulado, típico dos filmes italianos dos anos 50; iluminação consistente; um grand finale de tirar o fôlego; e uma moça. Só uma vale o filme inteiro. Mas, como eu gosto de fazer suspensezinho, vamos continuar a desenrolar o carretel.

Pesquisei muito sobre gente que viu a versão da Broadway, gente que amou o filme e outros que odiaram e saíram antes do fim... Mas, depois que eu vi a primeira foto da Penélope Cruz, pensei “cara, deve ser lindo isso” e fiquei superempolgado até ver como o Guido Contini é chato. O cara fica cheio de crise, fumando que nem uma chaminé, só quer saber de fuder e nada de trabalhar... parece um playboyzinho, só quer fama, sair bem na fita, dirigir seu carrão e, como ele mesmo diz, sua idade mental beira os dez anos. Um herói que muita gente vai se identificar. Só faltava ir pra baile funk.

Então aparece a Penélope, a amante, com um número bem legal, plasticamente perfeito, musicalmente OK. E então vem Judi Dench, a amiga, com seu sotaque francês contradito pelos seus ditongos ingleses – e ela não canta, ela declama os versos da música; Fergie, a prostituta da infância, com aquele vozeirão americanamente exagerado, mais próximo do American Idol do que de um musical; Marion Cotillard, a esposa, com seu primeiro solo – música insuportável; Kate Hudson, a jornalista periguete, pagando de putinha quase carioca zona sul com uma música não exatamente boa, mas catchy – num trabalho de câmera de videoclipe de mau-gosto, convenhamos; Sophia Loren, la mamma, a única coisa realmente da Itália com uma aparição tão expressiva quanto Reynaldo Gianechinni em Laços de Família; Nicole Kidman – pausa pro “putaquiupariu, essa mulher implantou 350ml em cada lábio, não é possível” – numa outra música chata, bancando a musa que quer ser vista como ser humano; e, por fim, o segundo solo de Marion, esse sim, do caralho!

A trama de Nine é mínima. Esse resumo da ópera mostra como as personagens são rasas e arquetípicas. O filme se baseia na apresentação das mulheres da vida de Guido e o enlace e desenlace se dão muito próximos, além de ter personagens demais na adaptação – até agora não entendi muito a relevância do papel de Kate Hudson. As estrelas não brilham pelo tempo dividido entre muitas, então elas se ofuscam. Daniel Day-Lewis se sobressai por, sei lá, carisma, pois seu personagem não parece ser tão difícil de ser montado – e seu sotaque italiano, bem, deixemos isso de lado.

Espera um pouco. Se as músicas de um musical já não são assim, uma Brastemp, e o protagonista ganha a cena por ser o Daniel Day-Lewis, por que isso vale duas horas da sua vida? O grande trunfo de Nine é – que ruflem os tambores – Luisa Contini, a personagem de Marion Cotillard. Ela rouba a cena das demais e, principalmente nas cenas de flashback e no seu segundo solo, a respiração do espectador vai ser hipnotizada. Ela traz som e fúria do teatro para a tela grande, seus olhos enchem e inebriam a cena com sua angústia e seu amor, sempre de uma maneira muito sutil (basta comparar com Nicole Kidman).

Vale a pena ser visto: as panorâmicas da Itália são lindas, a abertura de pernas da Penélope é incrível e, no final, a gente vai ficar cantarolando Cinema Italiano, a música que fecha o filme na voz de Kate Hudson. Ah, taí a relevância do papel dela!




4 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

A câmera de videoplipe de mau gosto, incluindo a música interpretada pela Kate, foi o que eu mais gostei do filme.

O sotaque de italiano do Daniel, não deixemos de lado nunca.... Socorro, aquilo foi o fim. srsr

Amo de paixão a Nikole, pago pau pra Penélope, Judi Dench estava um escândalo, adoro musicais, mas prefiro mil vezes 8 1/2 a 9.

E a respeito de Guido, não acho que ele seja isso tudo que vc escreveu. Ele é apenas um cara com uma séria crise criativa, tentando achar inspirações em toda e qualquer relação sua com as mulheres. Acho que em 8 1/2 dá pra entender melhor o personagem.

Unknown disse...

Essa eu quero comentar. Fui com a mente aberta sem a intenção de comparar com 8 1/2, mas é impossível. Tem muitas cenas praticamente iguais, como a parte da Saraghina. É meio óbvio que 8 1/2 é muito melhor que Nine, mas não tiro o mérito do musical. Gostei bastante do Guido do Day-Lewis e o sotaque não me irritou. A Marion dá um show e eu amo a Penélope. Judi Dench e Sophia Loren não me incomodaram. A Nicole tá ali, é a diva, whatever, mas a Kate Hudson, tipo, wtf? papel e performance completamente irrelevantes e eu nem saí cantando "cinema italiano". Agora "be italian", da Fergie, me deixou arrepiada, achei super forte e adorei os pandeiros. E no final fiquei com vontade de ver 8 1/2 denovo.

Giulia Prates disse...

Eu ODIEEEI o filme hahaha muuito chatinho, arrastado e nao me tocou de forma alguma... adoro o Day-Lewis em qualquer coisa, mas nem assim pude gostar desse filme. A Penelope Cruz tá linda porque isso não tem como mudar, e talvez o filme valha por ela e pela Marion, linda também, e com uma personagem incrível!! A Kate Hudson é completamente dispensável, a Fergie tá ali cumprindo o papel dela muito mais ou menos... E a Nicole às vezes parece meio velha demais pro filme, não sei porque.
Só sei que na metade do filme eu já tava impaciente pra ir embora do cinema.

Postar um comentário