sábado, 6 de março de 2010

Somos Jesuses

*ESPECIAL OSCAR 2010*
por Gabriel Giraud



Na noite do Oscar desse ano, haverá muitas apostas sobre dois filmes: Avatar e Guerra ao terror. Tudo e mais um pouco já foi dito sobre Avatar. Cora Rónai disse que é um “ótimo filme ruim”. Sim, a história é a mesma das invasões imperialistas. No entanto, no mundo dos roteiros, há cerca de doze estruturas nas quais todos os filmes se encaixam. E, sendo assim, o que conta é a maneira com que se conta essa história. O fazer se sobrepõe ao roteiro.

É claro que um filme cuja tecnologia levou 15 anos para ser aprimorada tem um mérito e impõe uma admiração considerável. É mais do que um filme maneiro. É uma experiência revolucionária. Essa experiência, de acordo com muitos periódicos, compara-se a de se ver um filme com som ou a cores pela primeira vez. Será que o 3D se imporá como regra assim como a cor se impôs? Bem, na História do Cinema, se o fazer cinematográfico se sobrepõe ao roteiro, a experiência se sobrepõe ao fazer.

Ainda assim, quando comparamos as bilheterias dos filmes que fizeram história (corrigindo a inflação), Avatar fica em 15º lugar (apenas cinco filmes dos anos 2000 estão entre as 50 primeiras posições). Parece que o cinema morreu. Uma tecnologia nova hoje não é capaz de seduzir o espectador como a tecnologia das cores o fez quando E o vento levou... estava em cartaz.

Entretanto, ainda vale perguntar: que elementos o 3D pode trazer à linguagem cinematográfica? Afinal, nos filmes 2D o diretor escolhe pelo espectador pra onde ele olha, pois determinamos um objeto ou um rosto para estar em foco. Já no 3D, somos livres pra lha o que quisermos, seja em primeiro, segundo ou terceiro plano. Será que, se conseguirmos dar um sentido mais específico a essa nova ferramenta, ressuscitaremos o Cinema? Ou cabe aos cineastas aceitarem a morimbundeza cinematográfica?

Os dois grandes indicados pela Academia esse ano são filmes que buscam inserir o espectador na realidade de suas cosmogonias: o salvador Avatar e o low-budget Guerra ao terror. Seus “realismos” são distintos no que concerne a linguagem usada. Um é a riqueza quantitativa de elementos, superexposição de itens por quadro, detalhismo de um mundo imaginário. O outro busca a crueza do nosso mundo-real-que-não-vemos, com closes e recortes específicos dos detalhes que devem ser mostrados. O Oscar dirá linguagem sairá vencedora nessa batalha. Mas cabe ao público decidir se essas linguagens salvarão o Cinema de seu destino fadado a se encarcerar e morrer em terras acadêmicas.

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