sábado, 27 de fevereiro de 2010

Os incomodados que se mudem...

Por Gabriel Giraud


Sérgio Bianchi é um diretor que eu aprecio muito. Ele trata do social brasileiro sem aquela estética favelesca-sertanejesca estigmatizada no Cinema verde-louro. Ele fala de questões nas quais todos nós nos encerramos: preconceito racial, diferença entre classes, consumismo, caridade, valores pessoais de dinheiro e família. Seus filmes, apesar de não fazer muito sucesso nas bilheterias, se mantêm como importantes documentos ficcionais da nossa sociedade.

Os inquilinos é mais uma ambientação densa e claustrofóbica da realidade de uma família que, apesar de todas as dificuldades, tenta levar a vida honestamente. Ao contrário de Quanto vale ou é por quilo? e Cronicamente inviável, a trama do novo filme de Bianchi se fecha num nível mais específico. Já sua fotografia se atém num nível de documentário, mas há momentos misteriosos no uso da câmera de Bianchi, principalmente nos ápices emocionais do protagonista, com fusões e ricos em simbolismo. Os interlúdios com a aula de literatura formar uma trilha interessante e original à história, norteada pela ótima leitura de Cássia Kiss.

A atuação é muito boa, principalmente as dos atores que vivem os protagonistas (Marat Descartes e Ana Carbatti). Caio Blat é exceção. Os olhares e o suspense crescem a cada cena. O medo da morte e da invasão do invólucro da família angustia o espectador. A crescente tensão numa situação aparentemente sem saída nos leva a uma conclusão machadiana fatalista de aceitar a natureza humana. A estética simples, estranhamente, parece destoar da história, mas, no fim, vemos, de algum modo, como o banal e o extremo são amigos íntimos e vivem pacatamente ao lado da nossa casa. Vale a pena lutar por valores e direitos? Afinal, o tempo resolve tanta coisa mesmo... cada um é quem sabe de si. E, disso, Bianchi testa os nossos valores.

Recomendo filmes de Sérgio Bianchi para aulas e debates de Sociologia.

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