segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Aconteceu em Woodstock (Taking Woodstock)

Por Matheus Miguens



Aconteceu em Woodstock é baseado no livro homônimo de Elliot Tiber e conta, num tom intimista, a história verídica do autor (personagem protagonista), que falido, larga a vida de designer em Nova Iorque para ajudar os pais com o precário hotel El Monaco, única fonte de renda da família, situado na pequena Bethel. Lá ele vê a chance de alavancar o turismo na cidade quando resolve trazer um festival de Rock que recentemente fora proibido de acontecer na cidade vizinha de Catskills, por repúdio dos conservadores habitantes à comunidade hippie. Assim nasce Woodstock, que propunha “três dias de paz e música” com shows de Janis Joplin, Bob Dylan e Jimmy Hendrix.

Mas quem espera ver os shows que marcaram o festival se decepcionará. O intuito do filme não é esse e sim, humanizar os bastidores que antecederam o espetáculo. A intenção parece também atingir a música. Esperava um pouco mais de Danny Elfman (O Estranho Mundo de Jack, Batman), responsável pela trilha sonora do filme – também um dos meus trilheiros prediletos. O filme perde um pouco com isso, no instante em que falta o elemento essencialmente integrante à estória, a música – ela é a temática, poderia ter sido mais bem explorada. Não posso falar o mesmo da fotografia. Eric Gautier (Diários de Motocicleta), é o braço direito de Ang Lee no longa. Com uma câmera na mão que flui em movimentos ágeis, ele dá uma dinâmica aos enquadramentos mutantes, num objetivo de empregar uma estética de documentário ao filme. Isso fica claro, quando, aleatoriamente, takes filmados em Super-8 se misturam às cenas. É lógico que Lee também é responsável pela magnitude das imagens e dois elementos afirmam isso. Um deles é a divisão da tela em dois ou até três quadros (recurso já visto em Hulk) que, bem executada, mostra uma visão subjetiva do personagem em primeira pessoa num primeiro quadro, ao mesmo tempo em que plano e contra plano são mostrados em outros quadros. Outro elemento, digno do diretor, exalta seu talento de ter um olhar apurado sobre o comum – um plano-sequência do trajeto de Elliot para chegar ao local do festival, onde ele atravessa uma multidão de pessoas e carros engarrafados.

O roteiro é bem resolvido e os personagens muito bem estruturados. O elenco se encaixa tão bem que dá a impressão de que os atores nasceram para os respectivos papéis. É interessante como o personagem central, Elliot, lida com seus conflitos – internos e externos. Ele parece estar preso entre a obrigação que tem com a família e se libertar disso; se mantém em seu tipo de padrão comportamental puramente por culpa. Como ele, cada pessoa, de maneira diferente evolui ao longo do filme.

Enfim, os 40 anos de Woodstock foram merecidamente homenageados com essa releitura que traz um tempo dos verdadeiros ideais da contracultura; uma história humana transformadora, colocada no contexto de um evento cultural igualmente transformador.


0 comentários:

Postar um comentário