Demorou, mas chegou!
Queria primeiro me desculpar com os chatonildos de plantão que me cobram incessantemente essa continuação do post, e depois agradecer a eles. Agradecer também ao patrão-amigo Mathias e Giraud que sempre acreditaram no meu talento (sempre quis dizer isso!) e dia-a-dia mostram ter mais paciência comigo. E o último agradecimento vai para os novos leitores do blog! Mesmo todos não comentando, recebi notícias de novas pessoas que perdem seu tempo útil para ler essa bodega aqui, valeu mesmo. Sem vocês nós não seríamos nada! (Também sempre quis dizer isso!) Vamos ao que interessa.
Fora de propósito que nada! Oscar nunca sai de moda. Vamos falar dele.
Numa desventura pessoal que me aconteceu por esses dias, eu fui alertado de que estaria “confundindo as coisas” no dado momento. Isso parece sempre acontecer comigo – e com quem já não? Pois é, com os filmes não parece ser diferente. Apesar da sua consistência e das excelentes atuações, tenho um leve preconceito com Preciosa, vencedor do Oscar de Roteiro Adaptado (A segunda zebra do ano). Acho um filme apelativo dentro e fora das telas. Um livro de uma autora negra (Sapphire) foi lido por uma mulher negra (Oprah) que quis transformar num filme feito todo por negros para mostrar ao mundo a vida trágica de uma negra (Precious). Por si só, ele já soa preconceituoso. Preciosa enquanto filme é bom, mas é preciso separar as coisas. Confesso que o rejeitei antes de vê-lo, mas isso não tira o seu valor. Entretanto, minha aposta era do ‘favorito’ Amor Sem Escalas (Crítica Up In The Air), ganhador do Globo de Ouro da mesma categoria. Um filme bem contemporâneo de roteiro impecável onde tudo se encaixa, com personagens e diálogos interessantíssimos, e com o humor peculiar do diretor Jason Reitman (Juno;Obrigado Por Fumar). Dei-me mal.
Já em Roteiro Original - pra mim, a categoria mais disputada -, não tinha um favorito. Ganhou o ótimo argumento de Mark Boal por Guerra Ao Terror, cercado por uma certa polêmica – um militar está processando os produtores do filme por afirmar que a história se baseou em sua vida. Na hora de agradecer o Oscar, Boal lembrou os militares que continuam no Iraque e aqueles que morreram em combate. Tudo isso muito bom, muito legal, mas e o Tarantino? O prêmio podia ter sido dele, já que esse filme de guerra aí acabou com a noite! Num estilo prêmio de consolação, acho que Bastardos poderia ter levado, seu roteiro é tão bom quanto. Mas meu voto mesmo era dos irmãos Coen (Fargo; Onde os Fracos Não Tem Vez) – vocês devem estar achando que eu sou maluco - que concorreram com o brilhante A Serious Man. Dificilmente eles iriam ganhar por já possuírem quatro estatuetas, mas fazer o quê, esse foi um voto intencional afetivo. Num tem como, são os Irmãos Coen!
To indo pela ordem do IMDB, mas nesse momento não irei respeitá-la. Vamos deixar direção pra depois...
Atriz Coadjuvante foi a pura marmelada. Com um excepcional trabalho em Precious, Mo’Nique – até então atriz de ‘bobeiróis’ americanos – levou a melhor. Extremamente ovacionada na premiação - e não foi para menos -, ela disse que muitas vezes as pessoas devem deixar de fazer o que agrada para fazer o que é correto. Que isso sirva como elemento decisório para seus próximos filmes, já que, apesar de seus 10 anos de cinema, sua carreira acaba de começar. Parabéns.
A maior zebra da noite já foi apontada no post anterior (filme estrangeiro). Agora, mais do que o prêmio de atriz coadjuvante, é a vez da maior ‘barbada’! Até então, alguém já tinha escutado falar de Cristoph Waltz? Como um ator austríaco de 54 anos com mais de 94 trabalhos na carreira, entre TV e cinema, quase todos regionais, iria chegar à liderança mundial de seu ofício? Pergunta pro Tarantino, foi ele quem planejou tudo. Bastardos Inglórios (crítica Inglorious Basterds) foi palco pro espetáculo do poliglota Waltz, que levou tudo por onde passou (ao todo foram 36 prêmios e 5 indicações ao redor do mundo). Ao receber a estatueta de melhor ator coadjuvante, o gentil e elegante ator agradeceu e elogiou o trabalho do grande Quentin Tarantino, responsável por ter colocado o melhor papel do filme em suas mãos. Merecidíssimo!
O prêmio de melhor atriz foi para Sandra Bullock, acertei. Baseada integralmente no terceiro elemento (predestinação) que define um ganhador do Oscar, a minha aposta foi pra ela. Não diria que foi injusto. Bullock levou a estatueta por questões políticas, pela sua história no cinema, Oscar também é isso. Carismática, já participou de alguns filmes importantes e é tida como uma ‘queridinha’ de Hollywood. Mas pelo amor de deus, o filminho-sessão-da-tarde Um Sonho Possível não foi nem de longe a melhor atuação de Bullock e muito menos a melhor do ano. As concorrentes Meryl Streep e Helen Mirren eternamente são melhores que as demais. Carey Mulligan e Gabourey Sidibe, apesar de calouras, fizeram grandes trabalhos.
O Oscar, muitas vezes, não premia por uma interpretação específica, mas por toda uma carreira. E não vejo nada de mal nisso. Aconteceu com Sandra Bullock e se repetiu com Jeff Bridges – que já havia sido indicado outras quatro vezes – no prêmio de melhor ator, mas com uma diferença: foi merecido. Acabo de ver Crazy Heart. O filme em si não me convenceu, mas Jeff sim. Na pele de um cantor country fracassado, ele parece não estar atuando. Ao interpretar tão bem e ainda conseguir manter o carisma para um personagem tão desgastado, ele traz ao filme um brilho próprio, porém quase que sabotado por Maggie Gyllenhaal, que contracena com Bridges. Ela não se encaixa no papel – que lhe rendeu uma indicação ao prêmio de atriz coadjuvante - e nem no filme. Aliás, nunca vi potencial algum nesse ser. Sabe lá deus como a mulher conseguiu os papéis que já interpretou (e não são modestos), mas pra mim ela escolheu a profissão errada. Mas enfim, mesmo não tendo gostado tanto do filme, sou fã de Bridges. Aí vai um fato curioso: quando a distribuidora viu o filme pronto, resolveu lançá-lo às pressas porque viu nele a chance do Oscar. Estavam certos.
O que podemos explicar para a pessoa que está começando a gostar de cinema, que assistiu a Avatar e tinha certeza de que a Academia lhe outorgaria os merecidos prêmios, não só técnicos? Vamos lá...
Voltemos no tempo. Antes da festa do Oscar, Avatar era tido como o bam-bam-bam do ano. Críticos e público apostaram no massacre do filme na premiação, logo em suas primeiras semanas de estréia nos EUA. Sim, no estilo flashback de 12 anos atrás quando Titanic, também de Cameron, resolveu acabar com a noite. Ok, cortemos para um outro cenário. 2008, ano antecessor do lançamento de Avatar, foi marcado pelo lançamento de um outro filme, até então desconhecido, de nome The Hurt Locker, que tinha como diretora ninguém menos do que a ex-mulher de James Cameron, Kathryn Bigelow. O filme fracassou nas bilheterias americanas e ficou pouco tempo nas telonas. Baseado nessa situação, em alguns países, inclusive no Brasil, ele foi lançado pela distribuidora direto em DVD pelo receio de não ser lucrativo colocá-lo no circuito de cinemas. Essa falta de credibilidade acarretou em todos os males possíveis ao filme, inclusive numa péssima capa do próprio DVD. Eis que ao longo de 2009 surge um súbito ‘movimento’ de opiniões entre alguns críticos americanos a favor de The Hurt Locker, que num movimento bola-de-neve acabou por influenciar a outros pensadores da sétima arte e ao público ao redor do mundo. Qual foi o resultado? Voltar com o filme pros cinemas! Esse aparecimento verbal é muito importante para a saúde sócio-econômica de uma película e, de fato, o Guerra Ao Terror que conhecemos só foi surgir após Avatar. Até aí nada de novo. Atmosfera criada.
Considero os dois filmes igualmente bons, com propostas completamente diferentes. Avatar é um filme que tem sua concepção antes do próprio filme. Com um altíssimo orçamento, ele é baseado numa historia que não é lá tão nova assim, porém altamente sedutora e perfeitamente representada por um roteiro eficiente e uma direção impecável, regentes de uma pós-produção impressionante. Entretenimento com qualidade. Guerra Ao Terror já é quase todo o contrário. Portado de um orçamento baixo, é um filme onde tudo acontece ali, cena a cena. Sem um modelo pré-estabelecido de roteiro, a história é feita pra ser digerida a cada segundo, sem poder de dedução. É aí que o filme é potencializado. A direção resolve explorar isso e passa a ser agente. Fugindo da apatia, ela é frenética e dita o ritmo do longa, com câmeras panorâmicas, closes trêmulos, multi-ângulos, etc. Uma visão incrível da história, filmada em condições bastante difíceis e com precisão. Um belíssimo trabalho que rendeu a Kathryn Bigelow o merecido Oscar de Melhor Direção. A primeira mulher a vencer na história da premiação.
Eis que o prêmio de melhor filme acaba indo também para Guerra Ao Terror. Aí eu fui contra. Definitivamente essa vitória quis significar outra vitória, a da ‘qualidade’ sobre os ‘altos orçamentos’. Guerra Ao Terror não investe em novas tecnologias, como Avatar, mas faz o cinema avançar em outros sentidos, como o de reafirmar que filmes de altíssima qualidade podem ser produzidos com orçamentos diminutos. Reconheço tudo isso, mas ouso dizer – espero não me arrepender disso – que Avatar é melhor. Por que os ‘altos orçamentos’ não têm capacidade de produzirem ‘qualidade’? O fato de um termo excluir o outro virou mais um estereótipo “alternativo” (um alternativo também estereotipado) do que uma verdade. Acho burrice de Hollywood não apoiar os blockbusters que a sustentam, ainda mais agora que finalmente apareceu um bom (e não sabemos quanto tempo teremos que esperar por outro do mesmo nível. Talvez mais 12 anos?).
Ok, chega de polemizar Avatar e Guerra Ao Terror. Muita gente deve não gostar de mim nesse momento. Então, àqueles que possuírem um potencial intelectual para formarem opiniões sobre cinema e que forem contra as minhas, terei o maior prazer de duelar argumentativamente. Àqueles que se apropriam de ideias alheias pra formarem um pensamento raso e popular sobre cinema eu digo: num enche, sou publicitário.
Esse foi o Oscar.
6 comentários:
HAHA, esse post eu vou comentar com prazer. Até porque foi especificamente dedicado a mim, logo no início.
Antes de tudo, eu preciso dizer uma coisa: que história é essa de "sou publicitário"? hahaha menos, né...ainda não somos. :P
Não vi todos os filmes, mas tenho uns comentários a fazer... e o primeiro é que o Oscar pro Jeff Bridges foi mais do que merecido!! Eu vi o filme no cinema e achei a história absolutamente fraca e pouco interessante, mas a atuação dele foi (pra usar um clichê de críticas de cinema) IMPECÁVEL. Até esquecia que ele estava atuando, exatamente como você disse. Fica aqui uma observação minha, pra caso alguém saiba me responder: por que o nome do Colin Farrell (que eu acho um excelente ator, especialmente em "O Sonho de Cassandra") não apareceu nos créditos do cartaz? (e eu sei que vc provavelmente tb leu isso no blog do Rubens Ewald Filho...)
O segundo é que eu definitivamente NÃO gosto da Sandra Bullock. Sei lá, tenho preconceito com os filmes que ela faz e com ela em si. Nem vi esse filme novo, nem pretendo. Achei a história muito sem graça, aquela velha história de superação tantas vezes já transformada em filme. E - fala sério! - ganhar da Meryl Streep?! A Bullock nunca deve ter sonhado com isso na vida...
Por último, uma pequena reclamação minha (acho que muitos vão me crucificar por isso haha): acho que o Brad Pitt merecia um reconhecimento maior pela atuação dele no Inglórios. Seu talento está mais do que provado - pelo menos assim eu penso - e seu jeito pra "comédia" é inegável... é só ver Queime depois de ler e o próprio Bastardos Inglórios. Novamente, ao meu ver, uma atuação impecável.
Obrigada por ter finalmente postado a crítica! E desculpas por não ter discordado de vc, haha.
Cara Luciana, o fato do nome do Colin Farrell não ter aparecido nos créditos iniciais e nem nos finais é um mistério. Procurei, mas não encontrei nenhuma justificativa a respeito.
Não fique irritada com Sandra Bullock, apenas não veja seu filme. Ele não acrescentaria muita coisa mesmo...
Quanto ao Brad Pitt, paciência. Ele ficou de fora. Talvez seja pq mesmo que ele sendo ator principal de bastardos, ele vira coadjuvante no contexto do filme, já que a história não se dá prioritariamente em volta de seu personagem. Ele realmente foi pra lista da Academia, apenas não se classificou entre os 5 =/
De nada. Espero que tenha gostado.
sei não, achei esse post beem interessante, portanto pecou no final: "sou publicitário"!!!!
hehehehehee
ameei o blog!!
Que blog fantástico...parabéns :) nós ainda estamos um pouco "desnorteadas" com a noite dos óscares..ainda não nos conseguimos recompor, nem vai ser fácil..ehehe...beijinhos
aaahhh Matheus, de nada,
totally genious of you
sou seu fÃ, cara
e confundir as coisas é supernormal, mas é na confusão que podemos ter ideias novas mais interessantes ;)
o 'publicitário' serviu de uma justificativa idiota para demonstrar a minha preferência por avatar, mas só para quem não entendeu a minha explicação anterior, já q não volto mais nesse assunto pq não aguento mais! =]
obrigado mais uma vez às novas visitas! tô todo bobo com o comentário vindo da 'terrinha'... valeu mesmo.
e Giraud, espero que vc esteja certo amigo.
Um abraço a todos!
Comentem!!
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