domingo, 2 de maio de 2010

Megalomania op

Por Gabriel Giraud

O paraíso de todo diretor de cinema é ter seu filme classificado com “sem restrições orçamentárias” por seu estúdio. O documentário sobre o filme inacabado O Inferno, de Henri-Georges Clouzot, recebeu esse honraria assim que os produtores viram os testes de filmagem. Nem o céu era o limite para eles.

Eis a ideia do filme: um homem se casa com uma mulher, eles vão a um hotel de veraneio na margem de um lago, ele tem ciúmes da esposa. A gente até pensa numa vibe meio Dom Casmurro, tem até um Escobar com pinta de Don Juan no filme.

No entanto, quando um gênio resolve fazer um filme, nada é assim tão simples. Clouzot não queria pouco; ele queria revolucionar o cinema francês. Queria repensar os aspectos visuais do cinema, sacudir a nouvelle vague. O marido, ciumento, começa a ter distorções da realidade que o cerca, de modo que tudo converge à concretização do adultério por sua mulher.
E as distorções partem da repetição obsessiva de suas palavras, que vão seguindo um tom psicótico. E a realidade, no filme, em preto-e-branco, atinge um ápice de loucura em cores doentias. Cores estas que estavam florescendo nos anos sessenta, com influências da op art e da arte cinética.

Eis a matéria de O Inferno de Henri-Georges Clouzot, de Serge Bromberg e Ruxandra Medrea. Eles nos levam ao espanto e à atração causada pela deformação da realidade concebendo padrões estéticos no campo multicor e geométrico aliados à narrativa. E Clouzot pôs sua equipe em histeria nos seus devaneios artísticos. Mas não é só técnica que brinda e faz brilhar os olhinhos do espectador. Romy Schneider é o ícone do filme, aparecendo em todas as cores e luzes, e, ainda, além de ser a protagonista do filme não-realizado, é a heroína do documentário por ter conseguido segurar a onda do diretor.

Além da estupefação, a grande sensação que esse documentário nos deixa é, definitivamente, frustração. Não só apenas por estar no limbo uma quase obra-prima, mas por evidenciar a monstruosidade que um gênio pode ter quando vive o purgatório de filmagens que não acabam. Clouzot faria seu paraíso fundando um marco histórico no Cinema. E, certamente, vários Clouzots já passaram por esse mundo – pena que só o inferno de um deles é colorido.


2 comentários:

jojo disse...

quel panache dans le style! bravo! où et quand peut-on voir ce documentaire?

Anônimo disse...

le doc n'est pas encore aux cinémas... jsais pas pourquoi... normalement ça devrait être en affiche la semaine derniere, mais...

peutetre l'homem de ferro ou meme alice.

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