domingo, 25 de abril de 2010

Meio cheio ou meio vazio?

Por Rafael Mathias


Pare de se iludir. Você não vai conseguir tudo que quer da forma que quer, então fique com “o que funcionar”. Essa é a mensagem transmitida no discurso inicial do novo filme de Woody Allen, Tudo Pode Dar Certo. Tradução ruim de Whatever Works, que significaria literalmente “o que funcionar”, como já citado ali em cima. Também seria um péssimo título, mas o problema do título brasileiro é que transmite exatamente a mensagem oposta à do longa.

“Esse não é o filme ‘sinta-se bem’ do ano”, essa frase, incluída no discurso do protagonista Boris Yellnikoff (Larry David), expõe um personagem atípico aos tradicionais filmes de comédia romântica, mas típico das desventuras woodyallenianas. Boris é introduzido como um ser pessimista em uma “conversa de bar” e nos confirma isso ao conversar conosco. Sim, ele vira para a tela e inicia um discurso explicativo. Este recurso metalinguístico é ótimo para proporcionar uma maior identificação com Boris, de personalidade odiável e desinteressante para a maioria.



Larry David é Boris Yellnikoff que é Woody Allen. Aquele personagem neurótico que foi abandonado por Woody Allen há muito tempo, ressurge com a volta do diretor a Nova Iorque. Ninguém melhor que David (sem clichês) para interpretar esse personagem, com espontaneidade e sem nenhum tipo de overacting. Isso se deve ao fato de que em sua série Curb Your Enthusiasm (Segura a Onda) ele é tão neurótico quanto Boris (ou Allen), e mais, ele interpreta a si mesmo na série, como uma espécie de diário roteirizado. Para quem não sabe, Larry David é o co- criador e roteirista de Seinfeld.

O elenco de apoio é essencial, a coadjuvante Evan Rachel Wood interpreta com brilhantismo um estereótipo suave de garota do Mississipi. E os estereótipos são características chaves no filme. As personalidades de cada personagem, que a princípio pareciam imutáveis, se transformam para adaptando às situações.

Whatever Works no final das contas tem uma mensagem positiva, opositória ao inconformismo detalhista da sociedade contemporânea. Se satisfaça com o que for suficiente, resumindo “o que funcionar”.




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