segunda-feira, 12 de abril de 2010

Mamãe é de morte [made in Korea]

Por Gabriel Giraud


Fui comemorar o novo visual do blog indo ver sozinho a estreia de Mother – a busca pela verdade. Vi que a crítica era muito boa e que era um filme coreano. Isso tem se tornado uma constante no mundo do cinema: thrillers coreanos com críticas excelentes. Daí, pra não perder tempo com miudezas, já fui esquadrinhando como o filme devia ser (de acordo com os poucos filmes coreanos que vi): situações extremas de desespero; emoções e reações desmesuradas; psicose/psicopatia; polícia incompetente; mortes violentas; narrativa capciosa; final trágico e pessimista. Pra quem não viu, veja O Caçador (crítica aqui), e os do Ki-duk Kim Time, Fôlego e Casa Vazia. (Apenas Time e Casa Vazia têm exceções nessa listinha.)

Malz aê pelo spoilerzinho, mas, sim, temos todos esses elementos no filme. Nesse caso, a psicopatia superprotetora da mãe é o carro-chefe da história. O assassinato, a acusação do filho com problemas mentais e as descobertas da vida da vítima são os elementos que brincam com a cabeça já não muito boa da velha. E o legal disso é que tudo, todos os detalhezinhos, as minúcias, tudo, tudo, é muito bem feito. Uma coisa leva à outra de tal maneira que você não imagina, mas, uma vez que se tem uma informação, nenhuma outra coisa pode ser verdade. E isso é quebrado majestosamente. “A busca pela verdade” pode não valer a pena. E mais, ela pode ser remediada! Joon-ho Bong, roteirista e diretor do filme, ganhou meu “bravo!”

Mas o que me amedronta, me surpreende e me instiga é como uma narrativa oriental pode ser considerada genial no ponto de vista da crítica ocidental. Parece que estamos sedentos por essa psicopatia social tão características dessas áreas superpopulosas e por uma estética que saia do pop ladygaguiano. Talvez não, talvez seja uma real genialidade desses diretores coreanos que conseguiram, com suas temáticas, transcender com uma narrativa simples e chegar num íntimo humano jamais antes alcançado – o íntimo do desespero (sem apelos ao terror gratuito, mas ao terror como consequência de medidas desesperadas). Questões para pensarmos.

Não sei se você sabe, estimado leitor, que um filme que provavelmente você viu e muito provavelmente você a-m-o-u foi escrito e dirigido por Bong. Tokyo!, aquele filme tríptico com três médias (uma do Michel Gondry, Interior Design; outra do Leos Carax, Merde; e a terceira dele mesmo, Bong, Shaking Tokyo). Esse filminho dele, bem como Mother, trata a sociedade como uma máquina má. Escapa dela quem se isola completamente. Mas deixemos isso de lado.

Por fim, os simbolismos, a estética, a atuação e, principalmente, a narrativa, me fizeram dar o meu primeiro cinco rabiscos. Eu, ao longo do filme, hesitava entre três ou quatro rabiscos, mas, pela primeira vez, eu vi um deus ex-machina que faz o filme ganhar uma dimensão absurda. Uma agulhadinha e – nunca pensei que anestesiar uma dor e a consciência fosse tão simples. Talvez seja por isso que esse filme seduz. Nunca a anestesia e o torpor, tão desejados pelo homem moderno, foram tão francamente expostos.

(Música final maravilhosa. Pena que a p*** do Espaço de Cinema esteja com o som horrível.)



5 comentários:

Unknown disse...

Esse gênero não me agrada, mas vou comentar porque a crítica foi muito bem escrita. Parabéns :)

Anônimo disse...

assim eu fico todo bobo =o)

obrigado ^^

Monalisa Marques disse...

Cara, gostei do teu texto, acima de tudo. Descontraído, gostoso de ler e simples.

Vou assistir.
:)

jojo disse...

adorei o filme tambem e concordo com sua critica. Parabens para Bong e Gab!

jojo disse...

uma coisa so: vc acha o final "tragico e pessimista" mesmo?

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